terça-feira, 24 de março de 2009

Em Abril, Sevilhanas mil....

Abril é o mês da Primavera, do cheiro a flores de laranjeira, dos primeiros raios de sol e do calor que timidamente convida às saídas, às férias, às noites de luar, ao ritmo compassado das gargalhadas, entre copos, tapas, trajes de mil folhos e cores e, claro, ao baile por sevillanas.

Parte integrante do folclore musical andaluz, as sevilhanas motivam a partilha, a alegria e o convívio entre amigos e/ou aficionados, dos 8 aos 80, sem nunca deixar esquecer a sua componente de sensualidade e cortesia…

Mónica Lavín, autora mexicana, escreveu um livro em 12 contos – Por sevillanas – onde associa com arte e mestria as danças sevilhanas às etapas da vida de uma mulher (desde a criança que começa a bater palmas num coro até à mulher que dança semi-nua em frente a um espelho). Os personagens imprimem força e paixão a cada sevilhana, mostrando assim como se deve ‘dançar também a vida’:


Primeira sevilhana

«Azules rejas, azules rejas,

azules rejas, entre cortinas blancas»

Os braços erguem-se lentamente ao som de uma voz que anuncia o início do movimento, juntamente com os primeiros acordes da guitarra. A menina movimenta as suas mãos como passarinhos de papel, juntamente com as outras pequeninas. Dançam descalças, com os cabelos ao vento salgado e azul da Andaluzia. Entre as risadas esbranquiçadas como os muros, os pés pequenos levantam os folhos das saias quando trocam de sítio.

A dança é alegre, gozo de cordas e vozes cujo sentido importa. E aí importa o passo no tempo certo com o par, os braços que baixam quando um pé marca o caminho. Rabisca-se a dança para deter o revoltear de olhares no rasgado final das cordas, com os braços em postura altiva e o queixo erguido em direcção às nuvens.

A menina é, na classe, apenas mais uma numa dança aprendida entre bonecas e salões de festas, como o gosto pela água nos pés ou o vaivém de um escorrega tocando o céu.

As meninas bailarinas procuram apenas estrelas e sonhos entre o borbulhar da música festiva; não compreendem que assistem ao preâmbulo do ritual amoroso. Escondem o seu bulício interior sob as maçãs do rosto avermelhadas.


Segunda sevilhana

«Estaban dos amantes

dándose quejas»

A moça ergue os seus braços esguios lentamente, com o olhar baixo. Em frente dela também um rapaz coloca os braços em poses taurinas, peito aberto e cabeça erguida esperando a lide. Os sapatos de salto alto, verdes-azeitona, aproximam-se do companheiro de baile, intercalam sorrisos furtivos, apenas com olhares de soslaio. O ar cheira a flores de laranjeira, a flores húmidas como a pele da moça que esgrime o pescoço com tímida elegância.

A moça agita a saia para trocar de sítio com o seu companheiro que apenas roça no contorno da sua cintura. É forçoso olharem-se; é condição da dança reter esse implorar de olhos enquanto se cedem os espaços. Os corpos não se tocam, a intimidade é uma amêndoa dentro da casca.

Com os braços erguidos, o par persegue-se, ela meneia a anca. Equilibram proximidade e distância. Nunca se alcançam. Chegam à posição original, corpo a corpo, para aguardar o fecho da guitarra com uma volta que a coloca a ela à frente dele. O moço envolve-a com um braço na cintura e o outro ao alto, tocando-a levemente.


Terceira sevilhana

«Y se decían, que sólo con la muerte,

y se decían que sólo con la muerte se olvidarían»

A jovem mulher ergue os braços enquanto revira as mãos com lentidão, uma volta completa de dedos que se fecham e estendem oferecendo umas palmas suaves. O homem à sua frente dá cor à chamada com o peito erguido e as mãos fortes e livres, atento ao brio da investida.

Os olhares cruzam-se, aguardando o arranque. O tinir das cordas dá ritmo às voltas e reviravoltas, roçando as gemas que auguram um incêndio. Nos seus devaneios mantêm a entrega em suspenso, com os olhares dos outros expectantes.

O homem e a mulher agarram-se pela cintura para girar entrelaçados. Ele sente os odores do seu corpo embrenhado de branco e vislumbra no decote o arredondado de uns seios morenos. Imagina-os banhados de sumo de laranja, como um quadro de Júlio Romero. Os sorrisos e o disfarce preferiram a insistência nos olhares. Olham-se com arrogância e cruzam um sapateado encontrado para logo se manterem no seu espaço, aguardando o fecho da guitarra que obriga a uma paragem triunfal.


Quarta sevilhana

«Y eso no es cierto, y eso no es cierto,

porque se han olvidado y no se han muerto»

O olhar negro e profundo, o cabelo preso na nuca, um traje escuro agarrado ao corpo curtido em amores. A mulher acompanha as vozes com o batimento pausado dos dedos exprimindo a cadência do compasso. Não há companheiro de baile. Umas palmas surdas como um eco longínquo cobiçam os movimentos apenas insinuados, discretos e exactos. O olhar cruza-se no ar, fazem-se os careos com o ar dos amores fugidios e reconcilia-se com a intenção. A pasada é uma cortesia ao ritual herdado, uma forma de acrescentar humor à presença habitada de presenças despedaçadas.

Dança como nas outras noites em frente ao espelho, com um xaile vermelho atado ao corpo semi-nu. Gira ao encontro da música e as formas, as pausas e as extensões, e as vozes desgarradas no ritual de sensualidade.

É o momento do careo, o lance definitivo; os corpos deslizam de perfil, alargando um passo que alcança a figura a tempo, para perpetuar a memória do olhar. A mulher simula aproximações e afastamentos, reúne as risadas pueris com o desejo de nostalgia. Abre o peito e os braços, erguendo os seus atributos, no seu porte altivo, a sua elegância fermentada e os seus prazeres secretos.

A guitarra apela ao fecho e a mulher, com a pele salgada, aguarda a volta final, estende os braços e ergue o olhar para terminar a dança soberba e solitária!!!


Assim é o baile por sevillanas – uma dança envolvente, carismática e apaixonante, que se caracteriza especialmente pela sua graça, vivacidade, ágil dinamismo, flexibilidade e sensualidade.

Bjs


Mensagem

3 comentários:

Topzinhoo ^^ disse...

bem bonito. eu n me importo de receber chocolates, só n posso receber muitoooooooosss...senão em vez de crescer como devo, para cima, cresço para os lados, hehjeh

jinhos

Anônimo disse...

OI GUAPA, COMO ESTAS??
QUE LINDO O VIDEO, JÁ TENS SAUDADES NÃO É??
JINHOS VEM DEPRESSA
AIDA MOURA
WWW.OMUNDODAIDA.COM

Miguel R disse...

Olá!
És tu a dançarina da direita?
Muito bem, gostei muito.
Devias tentar dar aulas aqui por Genéve.
Beijinhos,
Miguel