domingo, 28 de agosto de 2011

Há dança no parque

Domingo, 18h00, Parque Bertrand....
O dia avizinhava-se frio e encoberto, mas o sol, teimoso, fez questão de aparecer e aquecer. Centenas de rostos felizes dirigem-se ao parque, para aproveitar a luz, que amanhã nunca se sabe... São miúdos, graúdos, de todas as cores e feitios, t-shirts multinacionais passeiam-se entre as verdejantes árvores do caminho que culmina numa espécie de piscina para a criançada.
Entre risos, bicicletas, bolas e baloiços, a brisa suave traz o som de Astor Piazzolla até mim, evocando recordações de salões de baile da antiga Argentina. Fecho os olhos por momentos e deixo-me invadir por aquela viagem de sensações, misto de curiosidade e nostalgia de outros tempos (já tinha ouvido dizer que aos Domingos à tarde o 'clube de reformados' da zona fazia encontros de dança no parque, e até acho que já tinha visto uma vez, mas agora era diferente, talvez pelo som inconfundível do tango erudito).
Deixo-me levar, não resisto, e vou até lá; espreito de mansinho e encontro um grupo de gente de todas as idades, com uma mesma motivação, rostos colados, alguns de olhos fechados, nitidamente praticantes e nada profissionais, mas com o sentir e o gozo expresso naqueles sorrisos que se esboçam; as senhoras, sem dúvida, lideram, mas deixam-se levar (se bem que muitas vezes fora do ritmo), pois no tango é mesmo assim, é o homem quem lidera. Os trajes divergem de par para par, mas os saltos altos que afinam a silhueta são uma dominante, as saias pelo joelho e os cabelos apanhados conferem a sensualidade necessária ao salão de baile improvisado.
Sorrio, parece-me bem a ideia: bailar, sim, ainda mais no parque, ao ar livre, entre mil olhos curiosos que a ninguém importam, pois entregues ao misticismo daquele tango improvisado, uns olhares por acaso até conferem mais ambiente.
Percorro de soslaio aqueles corpos que se tocam, as pernas que se entrelaçam, as mãos suadas que vagueiam pela pista improvisada e surgem-me mil ideias, e outras tantas interrogações, sobre as motivações que levam aquelas pessoas, tão singelas, a passearem as suas almas pelas notas musicais, assim, sem mais nem menos, pelo parque...
Argentina, Buenos Aires, ao som de Piazzolla ou de outro qualquer, veio até ao Parque, e foi bonito de ver, de ouvir, e certamente de sentir ;)
Bjs

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